terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Aldeia grande?

O dia de hoje foi passado no hospital, a acompanhar um familiar.
Amanhã deverá ser um dia semelhante.

Regressado à vida na grande cidade após anos de ausência, tenho quase por adquirida uma ideia que se vem formando nas três últimas semanas: Lisboa pode ser menos "anónima" (ia a escrever, menos selvática) do que aquilo que, no plano dos conceitos, surge como inevitável.

Será que estou a viver uma experiência invulgar ou a capital não passa (mesmo) de uma aldeia grande?

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

Regresso à normalidade

Há momentos na vida que nos marcam profundamente.

Estou a viver um deles.

É extremamente duro ver partir a família mais chegada, aquela com quem partilhamos sonhos e intimidades – primeiro a avó (que foi mais do que uma segunda mãe), depois o pai (cujo exemplo, vertical e lutador, ajudou a moldar o carácter), agora a irmã (a “menina” que, filha de dois trabalhadores humildes, foi professora e administradora universitária, publicou artigos técnicos, escreveu livros que são reeditados todos os anos).


A intervalos regulares, a dor atinge-nos em cheio, quebra-nos rotinas, altera-nos comportamentos, obriga-nos a pensar nas razões de viver.
Sem perdermos os traços fundamentais da personalidade, estas experiências fazem-nos diferentes.

São também ocasiões privilegiadas de reforço de laços familiares e de amizade, de (re)aprendizagem de valores, de partilha de sentimentos e emoções. “Se acreditamos que há algo que nos une, estes momentos podem ser uma ocasião de fortalecer esses laços, esse contínuo que atravessa gerações”, lembrou um amigo. Palavras profundas.

As manifestações de solidariedade consolam e ajudam a esbater a dor. Até mesmo aqueles telefonemas em que, do outro lado da linha, se nota a incapacidade de articular uma frase, uma palavra sequer – fica-nos o silêncio, um ou outro soluço. E como sabe bem ouvir o silêncio nestes tempos de gritaria permanente!

Os amigos têm sempre razão. “Não telefonei, porque não sabia o que te dizer. Mas hoje [quatro ou cinco dias depois] quero dizer-te uma coisa: a vida continua. Tem de continuar!”. Nada de mais verdadeiro.

O blogue esteve de luto. Nestes últimos 15 dias, publiquei apenas dois “postais”, para desejar um Natal de paz e um Ano Novo de felicidade, por respeito às dezenas de pessoas que, todos os dias, mesmo sem actualizações, continuaram a visitar este espaço.

Hoje começa um novo ano. Como que se renova a vida.
Em primeiro lugar, devo agradecer a quem, neste espaço, se quis associar à dor que nos atingiu. E também aos outros, os das sms, dos e-mails, das cartas e dos telegramas, aos dos telefonemas e aos que viajaram até Lisboa. Foi reconfortante tê-los, a todos, ao nosso lado. Bem-hajam.

O blogue vai prosseguir o seu caminho. Tentarei actualizá-lo diariamente, como vinha fazendo nos últimos meses. Com o mesmo tipo de conteúdos, mas também com algumas novidades. É um projecto, não uma promessa. De qualquer modo, espero que continue a ser um espaço de partilha de factos e opiniões, naturalmente subjectivo, orientado para ser um contributo responsável e construtivo, mesmo quando recorre à ironia e ao humor. Com virtudes e defeitos, porque são assim as construções humanas.

Ou seja, esta “página” vai regressar à normalidade.
À normalidade possível.