sexta-feira, 12 de maio de 2006

ACM - Explicação

Transcrevemos o texto hoje recebido
no endereço
apaginadomario@gmail.com,
intitulado "Explicação" e assinado
pelo Dr. José Castanheira,
vice-presidente da Direcção
da Associação Cristã da Mocidade (ACM) de Coimbra:



Li no jornal Centro do dia 10 a 24 de Maio, na Página do Mário, a propósito do texto “ACM cá e lá”, a nota do Mário e o seu lamento relativo ao facto de o atleta João Neto, que conquistou recentemente a única medalha de ouro portuguesa na Taça do Mundo em Judo, pertencer à ACM de Torres Novas e não à ACM de Coimbra, localidade onde nasceu, reside, estuda e treina.

E li a mensagem do Secretário-Geral da ACM de Coimbra, e o subsequente “convite” do Mário para que a situação seja devidamente explicada.

Entendo agora que, de facto, levantada tal questão no novo blog do Mário, deve a mesma ser devidamente esclarecida, que não está.

Sinto-me eu na obrigação de o fazer, porquanto, então na qualidade de Vice-Presidente da Direcção da ACM de Coimbra e de Presidente do Departamento de Desporto Federado da ACM de Coimbra, fui um dos que se viu a braços com a resolução de um grave problema que se deparou há anos à Secção de Judo da ACM de Coimbra – a incompatibilidade do Presidente da Direcção da Associação Distrital de Judo de Coimbra, Sr. Jorge Fernandes, com a Secção de Judo da ACM de Coimbra, com os inerentes prejuízos para a Secção e principalmente para os seus atletas.

A resolução do problema não foi fácil, nem rápida, e passou por várias fases.

Começaram por se fazer diligências junto do Presidente da Direcção da Associação Distrital de Judo de Coimbra, através do Senhor Presidente da Federação Portuguesa de Judo (lembro-me de me ter deslocado propositadamente a Lisboa, à Federação, a acompanhar o Senhor Prof. Canha, Presidente da Direcção da ACM de Coimbra, a fim de expormos ao Presidente da Federação as nossas preocupações e a nossa vontade de resolvermos o problema amigavelmente).

Como tais diligências não surtiram qualquer efeito, ou não surtiram o efeito pretendido, e como não se vislumbraram então outras soluções para de imediato se resolver o problema, principalmente o dos atletas, sendo certo que estes mereciam uma decisão rápida por parte da nossa Direcção, e como na altura (estávamos no ano de 1999) tinha já a Direcção da ACM de Coimbra projectos para desenvolver algumas actividades na área de Santarém, optou-se por constituir de imediato uma Delegação da ACM de Coimbra em Torres Novas, tendo sido constituída em Junho de 1999 a “Associação Cristã da Mocidade de Coimbra (Torres Novas)”, na qual se inscreveram de imediato, e se filiaram naturalmente através da Associação Distrital de Judo de Santarém, os atletas federados.

Por esta via resolveram-se dois problemas de uma assentada: concretizaram-se os projectos da Direcção de expandir as suas actividades à área de Torres Novas, e resolveu-se de imediato, embora não de forma definitiva, o problema dos atletas da Secção de Judo.

Com o passar dos anos entendeu a Direcção da ACM de Coimbra, sempre em perfeita sintonia com a sua Secção de Judo e respectivos atletas, que estariam criadas condições para o “regresso” dos seus atletas à Associação de Coimbra, tal como era sua vontade e também da nossa Direcção – e assim se procedeu, passando todos os atletas a ficar filiados através da Associação de Coimbra.

Mas durou pouco tempo a ilusão de todos – rapidamente se constatou que a incompatibilidade entre o Sr. Jorge Fernandes e a nossa Secção de Judo era inultrapassável, quer pela via negocial ou do diálogo, quer pela via judicial (que também encetámos sem êxito), quer mesmo pela via eleitoral (através da qual não conseguimos mobilizar Clubes – dos muitos que se identificavam com as nossas preocupações – em número suficiente).

De onde resultou que, sabendo reconhecer a “derrota”, e não tendo outras armas para esgrimir, a Direcção da ACM de Coimbra, novamente em sintonia total com a sua Secção e os seus atletas, acabou recentemente por fazer “regressar” os seus atletas, entre eles também o João Neto, não à ACM (Torres Novas) como erradamente se terá consignado no “Diário de Notícias” e no “Record”, mas à ACM de Coimbra (Torres Novas).

Não sendo naturalmente a melhor solução, e justificando sem dúvida o lamento do nosso Amigo Mário, lamento esse que antes de ser dele já era nosso há muitos anos, é esta por agora a solução possível ou a única que deixa a Secção de Judo e a Direcção da ACM de Coimbra de consciência perfeitamente tranquila – por ter conseguido por esta via preservar os direitos e as legítimas expectativas dos seus atletas, objectivo este o único que sempre nos norteou ao longo de todos estes anos, na procura das melhores condições de treino e de participação em provas nacionais e internacionais, o que manifestamente não seria possível conseguir se os atletas continuassem na Associação de Coimbra.

Em conclusão: a Direcção de uma Associação como a nossa tem que ser realista, saber reconhecer as derrotas e, com a objectividade que se lhe impõe, saber adoptar as soluções que melhor sirvam os interesses dos seus atletas.

Para terminar: não se trata, afinal, na minha modesta opinião, de uma questão assim tão estranha ou tão pouco vista – muito pelo contrário, quem tenha feito da vida associativa uma prática de muitos anos, como é o nosso caso, sabe de inúmeros conflitos que natural e regularmente surgem entre Clubes e Associações – uns têm solução fácil (e bom seria que fossem todos assim!), ouros têm solução difícil, e outros ainda não têm solução (é esse o nosso caso agora em análise!).

Finalmente ainda: entendo que de nada adianta alimentar as apontadas divergências associativas, e só me dispus a tecer os presentes esclarecimentos na sequência do “convite” que o Amigo Mário faz no seu referido apontamento – e muito bem, pois que lhe incumbe sem dúvida informar devidamente os seus leitores.

Boa sorte para o seu novo blog! Um abraço.

José Castanheira
(Vice-Presidente da Direcção da ACM de Coimbra)



Breve comentário

Refere o Dr. José Castanheira, a quem agradeço a amabilidade desta carta (que ajuda a compreender o motivo de um campeão de Coimbra estar filiado na Associação de Judo de Santarém), que "a incompatibilidade entre o Sr. Jorge Fernandes e a nossa Secção de Judo [é] inultrapassável, quer pela via negocial ou do diálogo, quer pela via judicial (que também encetámos sem êxito), quer mesmo pela via eleitoral".

Esta referência suscita diversas interrogações. Coloco aqui apenas duas:

A. - Uma associação distrital, qualquer que ela seja, serve para unir ou para dividir?

B. - Não significa nada para uma associação distrital o facto do seu melhor atleta estar filiado fora do seu âmbito geográfico - mais do que isso, fora do seu "espaço natural"?

É tempo de reflectir seriamente sobre esta situação. Afinal de contas, quem sai prejudicado é o Desporto de Coimbra.
O prestígio da própria cidade está em jogo - a ser derrotado num tapete. E isso é inaceitável.


quarta-feira, 10 de maio de 2006

Postal de Coimbra para JPP

No dia 10 de Abril, José Pacheco Pereira (JPP) esteve em Coimbra e escreveu no seu blog um texto intitulado “Lendo o ‘Le Monde Diplomatique’, junto ao Mondego, num dia cinzento, ao lado do barco ‘Basófias’”. Só.
Entre outras coisas, revelou-nos esta preciosidade: “Sempre achei que devia haver algo de muito errado numa cidade em que os estudantes gostam de andar vestidos à padre. Passam alguns, negros e poeirentos”.
Em homenagem à capacidade observadora de JPP, publica-se uma imagem captada sexta-feira ao fim da tarde na Feira do Livro.
Sem mais palavras.
Espero que goste.

Valeu a pena


Aí está a Queima das Fitas em ambiente de alegria.
Já houve tempos em que não foi assim.
Depois do 25 de Abril, a “nomenclatura” que se instalou no poder decretou que as tradições académicas eram fascistas. E o fado também. Os sons de Coimbra afastados da rádio.
Tempos de luta.
Vestir a capa-e-batina era meio caminho andado para a agressão cobarde, numa qualquer esquina da Alta. Ou para, ao entrar na sala de aula, ouvir exclamar que “hoje, temos um corvo cá dentro”. Ou ver o carro do cortejo incendiado ao chegar à Praça.
As primeiras serenatas foram manifestações de resistência. Apesar das garrafas de vidro lançadas para o meio da multidão. Estar ali era fundamental. Cantava-se (gritava-se!), a uma só voz, a parte final da “Trova do vento que passa”.
Coimbra, amordaçada no seu mais profundo sentir, saiu à rua e fez da Semana Académica de 1979 e da Queima das Fitas de 1980 dois momentos grandiosos - únicos.
Como já tinha sucedido, aliás, com o regresso do fado à escadaria da Sé Velha em 1978, pelas mãos de Pinho Brojo e António Portugal, dois socialistas corajosos.
Hoje a tradição percorre o caminho natural do que está enraizado no coração da comunidade. Alegro-me com a alegria da festa, emociono-me com a felicidade dos jovens e de quem os acompanha. Sinto uma grande paz interior, misturada com algum orgulho por ter participado nessas lutas.
(Ainda na semana passada, na Sé Nova, o Eduardo Nunes disse ter encontrado nos arquivos uma foto de 1979, do “Baile de Gala” no Pavilhão dos Olivais. Prometeu guardá-la, prometi ir buscá-la um dia destes…).
Não voltei a usar capa-e-batina depois de 1980. Mas continua guardada, pronta a vestir.

O olhar de Victor Costa


Foi assim que o artista plástico Victor Costa viu a permanência da Académica na I Liga e a descida do Vitória de Guimarães. Contas antigas...

ACM cá e lá: lamentar não é suficiente

Recebemos (aqui, no blog) a seguinte mensagem:

Um filósofo defendeu um dia que todo o argumentador que se preze deve problematizar em torno de três momentos: investigação, análise e divulgação. Deixando de lado a divulgação (da qual somos exemplo aqui), a investigação e análise podem ser entendidas como a capacidade de indagar, decompor e explicar a realidade que nos circunda, para se poderem expor conclusões ou hipóteses com algum rigor. Lamentar uma situação não é suficiente.
Quando se divulga com espanto que uma medalha foi conquistada pelo judoca conimbricense João Neto – que nasceu, reside, estuda e treina em Coimbra – em representação da ACM de uma cidade que não a sua (na qual está inscrito), convém investigar e analisar as causas que terão levado a tão bizarra circunstância.
Por que razão é preciso investigar, analisar e só depois divulgar? Certamente porque já na Antiguidade os gregos sabiam que há uma grande diferença entre ter opiniões e possuir conhecimento. Podemos ter opiniões correctas simplesmente por sorte, ou então por fé, mas elas não constituem "saber", por carecerem de fundamento racional. Quando o nosso objectivo é conhecer com seriedade, não nos podemos ficar no nível declarativo, devemos antes pesquisar, destrinçar e aí sim, manifestar. Os acemistas agradecemos profundamente que assim seja feito.
Graciano Marques
(Secretário-Geral da ACM de Coimbra)



Na última edição publiquei uma breve nota sobre o facto do judoca conimbricense João Neto (medalha de ouro na “Taça do Mundo”) estar inscrito na ACM de Torres Novas, no distrito de Santarém. A informação é correcta.
Terminei o texto (reproduzido em cima) com um simples comentário: “O meu lamento”.
Como não devo ter sido claro, desenvolvo a ideia: o que fica para a história, nos registos oficiais, é uma medalha de ouro conquistada por um emblema do Ribatejo. E este facto nada acrescenta ao prestígio do desporto de Coimbra.
Quanto aos motivos da situação do atleta, quem melhor do que a ACM para os explicar? É pena que não o tenha feito. Mas o jornal estará sempre aberto ao esclarecimento. Como se escreveu no n.º 1 do “Centro”, estas páginas são espaços de liberdade.

M. M.