quarta-feira, 10 de maio de 2006

Valeu a pena


Aí está a Queima das Fitas em ambiente de alegria.
Já houve tempos em que não foi assim.
Depois do 25 de Abril, a “nomenclatura” que se instalou no poder decretou que as tradições académicas eram fascistas. E o fado também. Os sons de Coimbra afastados da rádio.
Tempos de luta.
Vestir a capa-e-batina era meio caminho andado para a agressão cobarde, numa qualquer esquina da Alta. Ou para, ao entrar na sala de aula, ouvir exclamar que “hoje, temos um corvo cá dentro”. Ou ver o carro do cortejo incendiado ao chegar à Praça.
As primeiras serenatas foram manifestações de resistência. Apesar das garrafas de vidro lançadas para o meio da multidão. Estar ali era fundamental. Cantava-se (gritava-se!), a uma só voz, a parte final da “Trova do vento que passa”.
Coimbra, amordaçada no seu mais profundo sentir, saiu à rua e fez da Semana Académica de 1979 e da Queima das Fitas de 1980 dois momentos grandiosos - únicos.
Como já tinha sucedido, aliás, com o regresso do fado à escadaria da Sé Velha em 1978, pelas mãos de Pinho Brojo e António Portugal, dois socialistas corajosos.
Hoje a tradição percorre o caminho natural do que está enraizado no coração da comunidade. Alegro-me com a alegria da festa, emociono-me com a felicidade dos jovens e de quem os acompanha. Sinto uma grande paz interior, misturada com algum orgulho por ter participado nessas lutas.
(Ainda na semana passada, na Sé Nova, o Eduardo Nunes disse ter encontrado nos arquivos uma foto de 1979, do “Baile de Gala” no Pavilhão dos Olivais. Prometeu guardá-la, prometi ir buscá-la um dia destes…).
Não voltei a usar capa-e-batina depois de 1980. Mas continua guardada, pronta a vestir.

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