sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Portugal, rabejador da Europa

«Quando eu nasci, Portugal estava na cauda da Europa. Veio o PREC, e Portugal continuou na cauda da Europa. Depois chegou alguma estabilidade, e aí Portugal continuou na cauda da Europa. Entrámos na CEE, e permanecemos na cauda da Europa. Vieram os governos de Cavaco Silva, mais os milhões comunitários, e - então sim - Portugal continuou na cauda da Europa. Nisto, o PS voltou ao poder. E Portugal manteve-se na cauda da Europa. A seguir, o PSD regressou ao governo. E Portugal na cauda da Europa. Depois, mais governos do PS até hoje. E Portugal firme na cauda da Europa. Onde fica Portugal? Na cauda da Europa. Não se sabe que bicho é a Europa, mas lá que tem uma cauda é garantido. E não há dúvidas nenhumas de que Portugal está nela sozinho.

Nem sempre foi assim. No princípio, Portugal estava na cauda da Europa acompanhado. Nos anos 70, Espanha estava taco a taco connosco na cauda. Ora valia mais o escudo, ora valia mais a peseta. Primeiro, nós íamos ao El Corte Inglés fazer compras baratas. Entretanto, o El Corte Inglés veio para cá fazer vendas caras. De repente, os espanhóis meteram uma abaixo e começaram a galgar pela Europa acima - e nós ficámos na cauda com a Grécia. Nisto, os gregos também amarinharam. Abriu-se a União Europeia a países que estavam igualmente na cauda, como a Irlanda, e todos foram abandonando a cauda a caminho, suponho, do lombo da Europa.

Como se explica este fenómeno da nossa longa estada na cauda da Europa? Creio que só pode ser uma opção. E, sendo uma opção, tem de ser estratégica. É muito raro uma opção não ser estratégica. Já tivemos vários governos e regimes, e todos, sem excepção, optaram por nos manter na cauda. Deve haver um plano. Outros países, que não têm coragem de permanecer na cauda, foram avançando para a garupa. É lá com eles. Mais fica de cauda para nós.

A verdade é que alguém tem de ficar na cauda. E, no que diz respeito a caudas de continentes, a estar nalguma que seja na da Europa. Temos a experiência, o talento e, pelos vistos, a vocação para estar na cauda. Seria uma pena desperdiçar décadas e décadas de prática. Será sensato que um país com o tamanho do nosso se aventure para fora da cauda da Europa? É importante não esquecer que é com a cauda que se enxotam as moscas. E que a cauda consegue enxotar tudo, menos o que está na cauda. Os pessimistas dirão: temos o último lugar garantido. Os optimistas hão-de notar que, ao menos, é um lugar. E que está garantido. Já não é nada mau.»
(Ricardo Araújo Pereira, na "Visão" de ontem)

Brilhante!

Cabo Verde

Nos meus 52 anos de vida, passei apenas algumas horas em Cabo Verde, numa "escala técnica" do navio em que viajava a caminho de Luanda.
Essas escassas horas, porém, foram suficientes para me apaixonar pelas mornas e coladeras cabo-verdianas.

Bom fim-de-semana.
E façam o favor de ser felizes!


quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Benfica e Governo

Estou a ver o Benfica (4-0 aos 57 minutos) e a SIC informa, em rodapé, que já há novo Governo.

Os nomes passam a correr mas pareceu-me ver como ministra da Educação a escritora que nos últimos dias tem afirmado repetidamente não ter recebido convite para o cargo.
(Ainda a ouvi dizer isto hoje de manhã, pelo que concluo que deve ter sido convidada "in extremis"; mais um pouco e haveria Governo sem ela...)

PS - O jogo vai agora nos 63 minutos e o resultado continua em 4-0. Nas bancadas mais de 44.500 espectadores.

Pensamento do dia

«Relógios atrasam 60 minutos este domingo para dar tempo a Sócrates de formar governo.»
(lido no Facebook)

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Rua limpa

A rua onde moro está finalmente limpa.
Não, não foram os serviços da autarquia, que teimam em não a varrer há dezena e meia de anos.
Foi a chuva. Abençoada.

Olhar o lado bom da vida

Para quê perder tempo com Saramago ou com o mau tempo?
A vida é tão curta que não devemos desperdiçar muito tempo com coisas pequeninas.

Ao mesmo tempo que se conhece um novo "fax" sobre o Freeport e quando Portugal desce para o 30.º lugar na classificação da liberdade de Imprensa, aproveitemos para ouvir boa música. Enquanto não for proibido.


terça-feira, 20 de outubro de 2009

Viva a liberdade!

«O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou, esta terça-feira, o Estado Português por ter considerado difamatório o boneco que um habitante de Mortágua fez circular pelas ruas, aquando do Carnaval de 2004, e que representava o autarca local.»
(notícia da TSF, que pode ler na íntegra aqui)

Felizmente, estamos na Europa.
É a única forma deste "sítio mal frequentado" poder sonhar em ser, um dia, um país a sério.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Freeport, Académica e os "novos padrecas"

Deixo aos visitantes deste espaço um conjunto de sugestões de leitura, que julgo muito interessantes. Basta clicar nos títulos. O mundo, hoje, é assim.

Caso Freeport: fax fala de corrupção
No final da carta é explicitamente referida a existência de subornos, concretamente dois milhões de libras em luvas. À época, qualquer coisa como três milhões e duzentos mil euros. (TVI24)

O novo treinador da Académica/OAF
A contratação de André Villas Boas tem dado imenso que falar no seio da família academista. Uma das perguntas que nos fazem com maior frequência é “Como é que o Engenheiro Arguido Simões descobriu este Mourinho de imitação?” ("O sexo e a cidade")

A proibição do circo de feras
É evidente que o Mundo não é perfeito. Se a vida fosse casta e pura como querem estes ayatollahs ocidentais não haveria nem touradas nem putas, nem ricos nem pobres, nem não-fumadores a levarem com o fumo dos outros, nem mariquinhas a inalarem CO2, nem cães a ladrarem, nem a polícia a facturar nas rotundas, nem um agente técnico a armar-se em arquitecto, nem um primeiro-ministro medíocre a ser reeleito pelo povinho, nem nada. ("Instante fatal")

domingo, 18 de outubro de 2009

Saudades dos meus 15 anos



É estranho o fascínio que algumas canções exercem. E, por vezes, reencontrar uma dessas "musiquinhas" que nos marca(ra)m permite-nos dar um salto para trás no tempo. Muito tempo, até.

Esta noite, ao encontrar os Bee Gees no YouTube, o "filme da minha vida" voltou aos anos de "teenager". Num instante, senti-me no início da década de 70. E um turbilhão de recordações invadiu-me o pensamento.

Vivia então na Rua das Padeiras, estudava no D. João III, tentava jogar basquete no Sport e andebol na Académica. Fazia teatro no grupo do Prof. Sousa Santos e começava a escrever nos jornais. A música ouvia-a em casa do Coelho, que tinha um gravador de alta fidelidade, de bobinas - um luxo! Ou em casa do André, que tinha sempre as últimas novidades muitos meses antes dos outros, trazidas pelo pai de Londres. Beatles e Bee Gees tanto fazia.

Nesse tempo, creio, já não jogava à bola no terreiro junto à Estação Nova, nem na Praça Velha, mas ainda passava três meses e meio de férias em Friúmes. Coleccionava as festas das redondezas, as pescarias no Alva e os bailaricos de fim-de-semana. E já tinha desistido de aprender acordeão na FNAT, causando alguma mágoa ao meu pai.

Vivia a aventura do "rapaz da Baixa" que frequentava o liceu da Alta. Ajudava a família na distribuição do pão, especialmente ao sábado, por alguns dos restaurantes mais conhecidos da cidade. Frequentava a Igreja de S. Bartolomeu, do "meu" padre Nunes Pereira. Devorava jornais e não perdia alguns programas de rádio favoritos. Vibrava com as goleadas do hóquei em patins e via a final da Taça dos Campeões na montra da "Bonanza", na Rua do Corvo. E tinha o sono tão pesado que não acordava sequer com o incêndio do "El Dorado", na Rua Adelino Veiga, paredes-meias com a casa em que morava.

(Ainda) vivia os dias, todos os dias, despreocupado e feliz. (Quase) como hoje, felizmente.

PS - Encontrei ao fim da manhã o Fernando, que já não via há mais de uma década, talvez duas... Amigo destes tempos de juventude, amigo para sempre. «Temos de voltar a Vale da Chã!» onde passámos dias inteiro a tentar enganar barbos e bordalos. E a tomar banho no caneiro, mesmo ao meio do rio. O coração tem destas coisas: falámos como se ainda anteontem tivéssemos estado à conversa. Foi um domingo feliz.