quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

História (triste) de Natal

O rapazinho chorava. O agente da PSP que estava de serviço àquela escola de Rabo de Peixe perguntou-lhe a razão do choro, e ele respondeu: “Minha mãe não teve dinheiro para comprar velas.”

Uns anos antes, o pai fora acusado de maus tratos à mulher e aos filhos. Entretanto, deixara de beber e arranjara emprego. Mas foi então que, numa certa noite, alguns polícias foram buscá-lo a casa para cumprir a pena de prisão finalmente decidida pelo tribunal. Quando ele já não representava nenhum perigo para a sociedade nem para a família, e se tornara indispensável para garantir o sustento desta.

A mãe não tivera dinheiro para pagar a conta da electricidade, que lhe foi cortada. Nem o teve para comprar velas à luz das quais o filho pudesse fazer os trabalhos de casa. E ele estava com medo de que a professora se zangasse.

A justiça é cega. Mas, às vezes, seria melhor que abrisse os olhos.

(in "Aspirina b")

1 comentário:

Ondina Paiva disse...

Foi apenas por ler a palavra "Rabo de Peixe", que resolvi deixar um comentário. É que esta localidade açoreana é-me muitíssimo familiar. Eu sempre disse "Barbatana Caudal", para me convencer que nunca havia saído da civilização!
Estive a dar aulas durante 8 anos nessa freguesia, a maior, em termos populacionais, do país.
No desenvolvimento dos valores nacionais e de uma cultura de cidadania, RABO DE PEIXE, ainda não foi capaz de fomentar os valores da pessoa humana, da democracia, do exercício responsável da liberdade individual e da identidade nacional.
As crianças e as mulheres não tem o direito de conhecer e fazer respeitar a Declaração Universal dos Direitos do Homem, a Convenção Europeia dos Direitos do Homem e a Convenção sobre os Direitos da Criança, enquanto matriz de valores e princípios de afirmação da Humanidade.
Não obstante, foi lá que eu aprendi a respeitar esses DIREITOS e a tornar-me num verdadeiro SER HUMANO. Foi lá que aprendi que "A DEMOCRACIA NÃO É QUANDO MANDO EM TI...E QUE A DITADURA NÃO É QUANDO MANDAS EM MIM".