MOMENTO PARA A HISTÓRIA
O que me deu especial prazer, na noite de ontem, foi ver as caras de alguns dirigentes do PS no Hotel Altis e fora dele.
Os rostos de Miranda Calha, do ministro das polícias, da ministra da Educação, de Pedro Silva Pereira, Vital Moreira, José Sócrates, Almeida Santos e Santos Silva não enganavam.
Gente que tem feito política com arrogância, com desprezo pela opinião dos governados, estava agora ali, nos écrans de televisão, com indesmentível sofrimento, porventura atordoados com a dimensão da derrota.
Almeida Santos, duas horas antes, entrara no hotel a dizer que «Vamos ganhar, vamos ganhar! Só não sei por quantos...». Viu-se, viu-se.
E que dizer da maneira como a ministra da Educação (da Educação, veja-se...) entrou no hotel, empurrando jornalistas? Se os queria evitar, deveria ter chegado mais cedo. Evitava, pelo menos, aquele espectáculo degradante.
PS: GRAU ZERO DA POLÍTICA
Sócrates e o PS pensaram que os espectáculos comicieiros, com Zapatero e tudo, camionetas de apoiantes a correr de um lado para o outro, chegavam para continuar a iludir os cidadãos. Enganaram-se redondamente.
O Partido Socialista (não consigo evitar um sorriso sempre que escrevo a palavra socialista) levou o debate político para o nível mais baixo de que me recordo.
Como sempre, haverá quem não concorde. A esses lembro o último cartaz que o PS afixou, mesmo em cima do dia da votação. Ele aqui fica. Como diz o Povo, é... "abaixo de cão".
OUTROS DERROTADOS
É necessário não ter memória curta. Há 15 dias, o PSD era um partido condenado, Paulo Rangel um candidato sozinho, "atirado às feras" pela direcção partidária. José Sócrates caminhava sobranceiro, indiferente à situação do país e pedia a maioria absoluta.
Muitos "fazedores de opinião" replicaram estas ideias. (Eu, se fosse algum deles, não apareceria durante uns meses nas televisões. Mas, certamente, eles não vão conseguir resistir ao apelo dos écrans. A verdade é que já pouca gente lhes liga...)
Um nome, apenas, como exemplo dos comentadores alinhados com o Governo socialista (lá estou eu a sorrir outra vez): Emídio Rangel.
As sondagens - personificadas no sempre presente Rui Oliveira Costa - foram outros grandes derrotados das eleições de ontem.
Já ninguém acredita.
(Eu deixei de acreditar há vários anos, quando foi anunciada uma sondagem que vaticinava cerca de 50% dos votos para Vítor Baptista, numas eleições autárquicas em Coimbra. E nem preciso de recordar os triunfos falhados de João Soares em Lisboa, de Fernando Gomes no Porto e de alguém que já não recordo em Sintra. Todos no mesmo ano. Tudo tão falso que o "Expresso" teve de pedir desculpa aos leitores na semana seguinte.)
Os socialistas que gostam de "malhar na direita" também não têm razões para sorrir. Não é verdade, Santos Silva? Não é verdade, José Lello? Não é verdade, Ana Gomes? Não é verdade, Edite Estrela?
E que dizer de Vital Moreira, o candidato que queria à viva força que o PSD falasse da «roubalheira no BPN»?
A Universidade de Coimbra é outro dos perdedores destas eleições, muito por culpa do desempenho de Vital Moreira, apresentado pelo PS, com pompa e circunstância, como "doutor de Coimbra". Um mau candidato, como se viu. Mau, não. Péssimo.
Mas como diz um amigo meu, quem perdeu foi a "velha Universidade". Porque a eleição de Marisa Matias, também professora universitária em Coimbra (mas nunca apresentada como tal), é uma vitória da "nova Universidade de Coimbra".
Ninguém me tira da cabeça que grande parte do erro das sondagens se deve ao medo. As pessoas têm receio de confessar abertamente o sentido do voto. E "encostam-se" ao poder com medo de eventuais represálias.
Mais a mais quando têm pela frente um poder que processa jornalistas e bloguistas, intimida e ameaça professores, afasta um funcionário por uma "piada" sobre as habilitações académicas do primeiro-ministro.
O momento da votação, porém, é (ainda) um espaço de liberdade. Ali, com uma esferográfica na mão e o boletim de voto na frente, tudo muda.
Nessa altura, o "slogan" torna-se realidade: o voto é uma arma do povo. Também contra o medo.
JOSÉ SÓCRATES NÃO ACERTA UMA
É indesmentível: José Sócrates não sabe recrutar candidatos.
Escolheu Mário Soares e obteve uma derrota histórica.
Escolheu Vital Moreira e obteve outra derrota inesquecível.
José Sócrates está a revelar-se um óptimo "abono de família" para os adversários.
ARROGÂNCIA SOCIALISTA
José Sócrates não acerta uma escolha e parece não aprender as lições.
Para o primeiro-ministro socialista (lá estou eu a sorrir sozinho...) tanto faz que se manifestem 100 mil professores, como 70 mil, como um... ou nenhum.
E se falo dos professores poderia falar de vários outros grupos sociais.
Por isso, na noite das eleições, confrontado com uma derrota humilhante (sobretudo para ele, que dias antes falava em maioria absoluta), não teve nem uma palavra para dizer aos cidadãos que compreendia o "sinal" que estes lhe davam. Nem uma.
Pelo contrário, arrogantemente, disse o seguinte: «Não está no meu género adaptar a governação às dificuldades do momento.» E prometeu «manter o rumo.»
Mas que percebe José Sócrates de governação? E de actuação democrática? Tenho a ideia de que terá um conhecimento (muito) limitado.
Para mim, que julgo ser este um dos piores governos desde o 25 de Abril, Sócrates percorre o "caminho certo" para ele e o PS averbarem em Setembro nova rotunda derrota. Ainda bem.
MOMENTO RIDÍCULO DA NOITE
Ideia ridícula da SIC: a divulgação de uma sondagem sobre as eleições legislativas (!!!) feita três dias antes do acto eleitoral. (Parece impossível, mas é verdade: na noite em que se contavam votos, numa noite em que o "xadrez político" conhecia uma reviravolta inesperada, na SIC comentava-se uma sondagem!!!)
Por outro lado, em face do naufrágio das sondagens na noite de ontem, recomendava o mais elementar bom senso que este inquérito, mesmo tendo sido realizado, ficasse guardado no fundo de uma qualquer gaveta, bem escondida numa qualquer arrecadação.
Não foi isso que sucedeu, a demonstrar falta de liderança.
MAIS DOIS DERROTADOS
Um dos derrotados é o jornalista da SIC Ricardo Costa, que não consegue participar num painel sem interromper os outros, tentando fazer vingar o seu "ponto de vista". Superficial, faz-me sempre recordar uma "estória" que presenciei em Praga, com ele (Ricardo) como protagonista, ainda Cavaco Silva era primeiro-ministro. [Um dia destes conto-a...] Ricardo Costa chega a ser irritante e é uma boa justificação para, quando ele fala, mudar de canal.
Outro derrotado, este inesperado, foi Rui Rio, que ontem ficou bem mais distante de uma futura liderança do PSD. Daqui a muito tempo ainda muita gente se lembrará do comentário que fez ontem à noite, recusando a importância de Vital Moreira na derrota do PS - e, ao mesmo tempo, (e aqui é que está o problema) desvalorizando implicitamente o desempenho de Paulo Rangel, o melhor político que surgiu no PSD nos últimos anos.
[Permitam-me recordar que neste blogue já se escreve sobre Paulo Rangel há mais de dois anos...]
O COMÍCIO FALHADO
O comício do PS em Coimbra, cidade de residência do candidato Vital Moreira, foi um falhanço total. O pavilhão do União de Coimbra é pequeno. O PS trouxe Zapatero de Espanha e mandou vir apoiantes de camioneta. Pois nem assim o pavilhão encheu. Um (enorme) fiasco, logo a abrir a campanha eleitoral.
"SIMPLEX" CHUMBADO
O Governo socialista (lá estou eu a sorrir outra vez) tanto tentou simplificar que... complicou. O Cartão do Cidadão revelou-se um autêntico quebra-cabeças para quem quis votar. O recenseamento automático provocou irritação.
O PS desconhece que as reformas (mesmo as mais simples, as administrativas) se fazem com os cidadãos e não contra os cidadãos. É a tal arrogância, aqui no plano da mera organização.
Deixo um exemplo concreto. Cá em casa votaram, pela primeira vez, todos os quatro membros do agregado familiar: um na Escola Primária do Ingote, dois na Escola Primária do Loreto e outro no Jardim de Infância de Eiras. Quatro eleitores residentes no mesmo local obrigados a votar em três locais diferentes"!
Dispenso tal "Simplex"!
[Outra vitória do celebrado "Simplex": o meu familiar continua, há 417 dias, à espera do Cartão de Contribuinte!!!]
FUTURO DO PSD
Manuela Ferreira Leite está de parabéns. Sobretudo porque escolheu para n.º 1 uma "cara nova", descomprometida com erros do PSD no passado e com uma linguagem nova.
Se a líder social-democrata continuar a apostar em gente desta, com o mesmo tipo de comportamento, de linguagem e de postura, poderá aspirar à vitória nas eleições legislativas.
Se, pelo contrário, apostar naquilo a que chamo de "cromos repetidos", não me parece que consiga chegar longe.
VOTO MAIS FÁCIL DE SEMPRE
A terminar, uma confissão pessoal: nunca me foi tão fácil votar como ontem.
Numa altura em que se decretou a morte das ideologias, em que as políticas dos vários partidos só diferem nos pormenores, há muito que decido o meu voto com base na confiança que tenho (ou não tenho) nos candidatos. Voto em pessoas. É este o critério que utilizo.
Ontem não tive qualquer dúvida, nem sequer a mais leve hesitação: uma das candidatas (embora em lugar não elegível) era uma velha conhecida. Via-a nascer, levei-a muitas vezes à escola, acompanhei o seu crescimento, orgulho-me com as suas vitórias escolares e políticas. Acompanho-a há 25 anos.
Votei nela.
Foi o voto mais fácil da minha vida.
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