sábado, 7 de novembro de 2009

Medina Carreira: homem brilhante



Admiro este homem.
Quando falo nele junto de algum político (ou "candidato-a-político"), respondem-me logo que é um pessimista, um tremendista. Ainda bem que o é: a situação do país é tremendamente perigosa. E ele denuncia-a; não tem "papas na língua".

Acredito, aliás, que o progresso surge dos pessimistas e não dos optimistas, surge dos que criticam e não dos que aplaudem, surge dos insatisfeitos e não dos satisfeitos.
Se não houvesse insatisfeitos, ainda hoje a roda seria quadrada (como foi...), porque mesmo quadrada já serviria muito bem.

É a velha opção: escolher o caminho difícil da vida ou optar pelo "carreiro" mais fácil.

* * * * *
Hoje, ao navegar sem destino pela internet, encontrei esta entrevista de Medina Carreira ao Expresso, há cerca de 15 dias.
Transcrevo algumas frases com as quais me identifico.


«Enquanto não vir gente capaz de tomar conta deste país, sou incómodo. Quando olho para os partidos, para estes dirigentes, não posso ser outra coisa.»

«Se me derem uma hora na televisão, viro muita gente do avesso! O problema é que a gente que precisa de ser virada não o quer ser. Este sistema de vida é bom para eles.»

«Presumo que seja incómodo. A mim não me convidam para ir à RTP, por exemplo.»

«As nossas escolas são fábricas de analfabetos. No meu tempo, os alunos com a 4.ª classe davam menos erros do que alguns ministros agora.»

«O problema da Educação é simples. Primeiro tem de haver ordem nas escolas, programas feitos com gente com cabeça e não por semi-analfabetos.»

«Aquilo que quero é tentar levar as pessoas a perceber os caminhos que trilham, fazer um pouco de pedagogia. Fazê-las entender que estão a ser burladas. O país não pode continuar a ser dirigido por trafulhas.»

«Eu defendo o presidencialismo, mesmo que seja por 15 ou 20 anos. Os partidos precisavam de sossego para se arrumarem e arranjarem gente menos ambiciosa, menos amante do dinheiro alheio.»

«Em Portugal, nos últimos 40 anos, deixou de se produzir pesca, agricultura, minas e indústria. Hoje, os serviços representam 70%. Se não mudarmos a estrutura produtiva, reforçando o sector primário e o industrial, não conseguimos vencer estas dificuldades económicas.»

«Portugal é o país dos achadores. Toda a gente acha. Liga-se a televisão e ouve-se toda a gente a achar.»

«A escola inclusiva é uma vigarice. Põem lá a tropa toda. Como todos somos diferentes, há uns que querem estudar e outros não. Há uns que são capazes e outros não. Quem não aprende não faz sentido lá estar. (...) Isto de todos serem iguais é uma trafulhice.»

«Se eu quisesse falar como o resto da malta tinha aqui o escritório cheio, de auto-estradas, de aeroporto, como os outros têm.»

«Vivemos num mundo muito estranho. Um dia destes fui comprar o jornal e estava uma pequena de 8 anos ao meu lado. Fiz-lhe uma festa na cabeça e perguntei-lhe como se chamava. Respondeu que tinha ordem dos pais para não falar a estranhos. Agora fujo dos miúdos, senão qualquer dia o Rui Teixeira põe-me na choça...»

«[Qual é o seu jogador preferido?] O Messi, porque é um grande jogador e um tipo modesto. Não gosto do Cristiano Ronaldo, porque é um grande jogador e um tipo insuportável. Mesmo um sábio, um compositor, um génio tem de ser modesto. A imodéstia é um sintoma de estupidez.»

«Quando aparece o Sócrates na televisão, eu mudo de canal. Para espectáculo, vou ao circo.»

«Custa-me ver que a classe política não quer julgar os crimes da corrupção, porque não lhes convém, é uma defesa corporativa. Não nos podemos fiar num certo tipo de pimpões que andam por aí...»

1 comentário:

Anónimo disse...

Porra. Tanta coisa certa em tanta frase. Fiquei com vontade de que dêem uma hora ao homem na RTP.

A.L.