segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Muro de Berlim
No Outono de 1993 (há 16 anos, portanto), vivi aquela que foi a maior experiência da minha vida jornalística até ao momento.
Durante cinco semanas, com partida e chegada a Berlim Oriental, participei na denominada "Universidade de Verão" da União Católica Internacional da Imprensa (UCIP, na sigla em francês).
Éramos 30 jovens jornalistas, de nacionalidades diferentes e de todos os continentes. O objectivo era claro: ver com os próprios olhos a realidade dos países do Leste da Europa, poucos anos após a Queda do Muro de Berlim.
Foi uma viagem enriquecedora, a todos os níveis - pessoal, profissional, cultural, humano.
Devo ao "Jornal de Notícias", onde na altura coordenava a secção de Política/Economia, a possibilidade de ter participado nesta viagem. O jornal dispensou-me do trabalho, pagando-me o salário. Isso era o que estava acertado desde a Primavera com o então director Amando da Fonseca, compromisso que a Direcção entretanto designada (Frederico Martins Mendes e Fernando Martins) respeitou integralmente.
Quando regressei ao Porto e informei que poderia escrever alguma coisa com interesse sobre a viagem, disseram-me para me dirigir à Rua de Santa Cartarina, à sede da revista "Notícias Magazine", suplemento dominical do "Jornal de Notícias" e do "Diário de Notícias". Assim fiz, sendo-me proposto o trabalho que acabou por ser publicado na edição de 26 de Dezembro.
Título, texto e fotos são da minha autoria, à excepção da foto e do título da capa da revista. (Devo, aliás, confessar que não gostei - nem gosto - do título escolhido para a capa.)
Esta viagem teve uma "curiosidade jornalística": na Polónia, já depois de ter passado pela Hungria, República Checa e Ucrânia, fiquei sem a máquina fotográfica durante um jantar em Cracóvia. Ausentei-me da mesa por instantes e... o ladrão actuou com eficiência. Perdi as fotos desse dia, mas mantive os cerca de 15 rolos fotográficos que já tinha utilizado. A partir daí, e até final da viagem, utilizei máquinas descartáveis, de papel. Por isso, as fotos do muro de Berlim e a das quatro raparigas "a gozar" com as estátuas de Marx e Engels, num jardim da parte leste da capital da Alemanha, foram obtidas da forma mais rudimentar possível.
Tenho recordado, ao longo de todos estes anos, a frase que um jornalista berlinense me disse naquela altura, em que se vivia a euforia da reunificação alemão: «Existe um muro bem mais difícil de derrubar: as nossas mentalidades são tão diferentes que a verdadeira reunificação vai demorar duas ou três gerações. No mínimo, uns 20 anos...». Pelo que se tem lido e ouvido nos últimos dias, a previsão mais optimista não se confirmou.
Para mim, que tinha 18 anos incompletos no "25 de Abril" e fazia parte de uma família onde não recordo qualquer conversa sobre política, o Muro de Berlim era a grande referência ideológica. Construí-a com base numa simples constatação: o cimento tinha sido colocado no coração de Berlim para impedir os de lá de virem viver para o lado de cá.
Foi a minha primeira identificação política: eu era (e queria continuar a ser) dos de cá, com tudo o que isso significava.
Não tive, portanto, de dar qualquer "cambalhota" quando o Muro foi derrubado. Andam por aí várias "figuras" – algumas até são bem conhecidas... – que mudaram apressadamente de partido político. Outras confessaram a ingenuidade (?) de terem acreditado no "sol da Terra" e fizeram público "mea culpa". Em suma: a queda do muro alterou, para além da realidade política europeia, a vida de milhões de pessoas, alemãs ou não.
Neste dia em que se comemoram 20 anos sobre o derrube do Muro do Berlim publico (ver algumas mensagens acima) a reportagem da "Notícias Magazine" de Dezembro de 1993.
É a minha modesta forma de homenagear a Liberdade.
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