quarta-feira, 26 de abril de 2006
Crónica de um tempo doido...
Segurança, códigos e passwords
Por tudo e por nada, as novas tecnologias exigem-nos um esforço de memória. Começa a ser cansativo.
Se desligou o telemóvel para não ser acordado com um hipotético telefonema durante a noite, de manhã vê-se obrigado a inserir o código. É o primeiro de uma série de números bem guardados na memória, já que é desaconselhável escrevê-los por razões de segurança.
Há quem precise de outro código para ligar a ignição do automóvel; felizmente não são muitos. Mas se vai para entrar no café e repara que não traz dinheiro, a solução é ir ao multibanco mesmo ao lado e levantar umas notas. Outro código.
De vez em quando a passagem pelo posto de abastecimento de combustíveis é indispensável. Depósito cheio, cartão de crédito na mão e... outro código!
Ainda não são 9h00 e já a memória teve de recordar três códigos – diferentes, pois claro, por razões de segurança.
Chega ao escritório, abre a porta e, rapidamente, deve desligar o alarme. Adivinharam! Outro código. E vão quatro.
Para consultar o correio electrónico, o computador pede-lhe uma “password”. Uma, claro, por cada conta de correio – e convém que sejam diferentes, ainda e sempre por razões de segurança. Há um ou outro “site” que, para deixar consultá-lo, obriga a registo e – adivinharam, outra vez!... – a inserir “username” e “password”. Rapidamente o número destas atinge o dos códigos.
Imagine, agora, que tem um pagamento qualquer para efectuar. Não, não precisa de voltar ao multibanco. Abre a página do seu banco e prepara-se para pagar pela internet: entidade, referência, montante e... “password” e código pessoal.
Na lista de números indispensáveis pode juntar outros que, de tão solicitados, convém igualmente ter memorizado: o número do bilhete de identidade, o do cartão de contribuinte e, já agora, o número de contribuinte da empresa para a qual trabalha, porque volta e meia é preciso pedir um recibo de uma compra. Números e mais números.
Com um bocado de sorte, se gosta de apostar no totoloto, ainda é capaz de memorizar a chave preferida: uma sequência de seis algarismos, pelo menos. E no euromilhões a mesma coisa, embora aqui só sejam necessários cinco algarismos. Para registar a aposta tem duas opções: ou num posto tradicional ou... na internet. Neste último caso, porém, deve estar registado no portal da Santa Casa. Adivinhou: é indispensável ter um nome de utilizador e um código com, pelo menos, oito algarismos e letras!
Se no final desta odisseia se sentir adoentado, o que é perfeitamente natural, há uma solução fácil: pegue no telefone, ligue para o Centro de Saúde (outro número que convém ter sempre por perto) e marque uma consulta com o seu médico de família. Vão pedir-lhe o número de utente, mas não sentirá quaisquer dificuldades em satisfazer a pretensão: abre a carteira, procura o cartão entre muitos outros e dita o número a quem o está a atender. Fica marcada.
Chegado à consulta, explique a situação com todos os pormenores. Depois faça só uma pergunta: “Ó sôtor, não há um medicamento que me livre destes números todos, códigos, nomes de utilizador e ‘passwords’?”. Atenção, porém: quando questionar o médico convém que o faça com a maior tranquilidade, sem sinais de desespero, caso contrário ele é capaz de lhe sugerir a ida a uma consulta de especialidade – a de psiquiatria, claro.
Bem vistas as coisas, essa é capaz de ser mesmo a melhor solução. Com tantos números, códigos e “passwords”, o mundo está a ficar maluco.
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1 comentário:
O melhor é ter sempre o mesmo código.
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