sexta-feira, 1 de dezembro de 2006
Partido Comunista, século XXI
O Partido Comunista Português (PCP) decidiu dispensar os serviços da deputada Luísa Mesquita, eleita como n.º 1 por Santarém. Ela recusa-se a acatar a ordem e diz-se "traída e enganada".
Sempre tive a ideia de que o conceito democrático dos comunistas portugueses é original. E nada tem a ver com o meu. Percebi isso logo no período pós-revolucionário, em situações que vivi pessoalmente: a fantochada do denominado serviço cívico e o consequente fecho das universidades em 1974 foi o primeiro "alerta". Outros se seguiram.
Agora, o caso da deputada ribatejana é emblemático. O despudor com que se quer substituir (contra a vontade da própria!) alguém que está legitimado pelo voto popular é incompreensível num partido que se reclama amiúde de defensor dos princípios democráticos e da própria Democracia.
Sobre este assunto, que é muito mais importante do que à primeira vista pode parecer, já se pronunciaram várias pessoas. Vejamos algumas opiniões.
"A Constituição não deixa margem para dúvidas: 'Os deputados exercem livremente o seu mandato, sendo-lhes garantidas condições adequadas ao eficaz exercício das suas funções'. E o Estatuto dos Deputados reforça-o.
Mas o PCP, que tanto clama pela Constituição, propala direitos, liberdades e garantias e reage tenazmente contra a mínima alteração da Lei Fundamental, não quer saber nada disso".
(Mário Ramires, in "Sol")
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"No preciso momento em que por todo o mundo se procura ligar cada vez mais as populações ao seu representante, individualizando, responsabilizando, discutindo os círculos uninominais, o directório dos comunistas portugueses revela-nos que encara as pessoas, mesmo os 'camaradas', como meros instrumentos, descartáveis, ao serviço da acção do partido".
"Curiosamente, este é o mesmo partido que denunciava a sucessão de Durão Barroso por Santana Lopes com o argumento de que lhe faltava a legitimação do voto popular".
"O PCP afirma-se contra uma geração de recibos verdes, no mundo do trabalho, mas é, ao mesmo tempo, e pela prática, a favor dos políticos cobardes, medíocres, que tudo façam para merecer a 'confiança' do partido não poupando nas doenças da coluna".
"Alguém me explica o que separa, afinal, o simpático camarada Jerónimo de Sousa do capitalista mais brutal? Eu não vejo diferença".
(João Marcelino, in "Sábado")
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O QUE DIZ A DEPUTADA
[Sente-se traída?] "Claramente. Traída e enganada. Caí numa armadilha. Precisavam de continuar a eleger um deputado por Santarém e usaram-me para o conseguir. Nunca imaginaria que o PCP me utilizasse como produto de consumo".
"Sinto-me como um objecto que o PCP usou quanto quis e desrespeitou como quis".
"A última proposta foi de total indignidade para mim. Disseram-me que me fosse embora, porque me arranjavam emprego na pensínsula de Setúbal. Não cheguei a esta idade [57] com uma vida digna para me vender por um emprego na península de Setúbal!".
(Luísa Mesquita, em entrevista à "Visão").
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