sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Citações

I

É óbvio que, neste campo das finanças públicas como noutros, o Governo de José Sócrates tem estado melhor do que o de Durão Barroso (o do meio não conta...). Pelo menos já se dispensa a maquilhagem das receitas extraordinárias.

Há, no entanto, ainda muito a fazer.

Ministério a ministério, o Governo tem de gastar menos, de cortar mordomias, de racionalizar recursos humanos e estruturas físicas. Não basta falar e anunciar. É preciso concretizar nos números e dominar a divida pública, porque não é saudável para a economia o corte que também se tem feito no investimento.


II

Cravinho queria ir mais longe no combate à corrupção do que pretende o PS e o seu líder parlamentar, Alberto Martins, mas o partido recusa estender ao enriquecimento ilícito e à criação de uma Comissão para a Prevenção da Corrupção as suas dez medidas sobre corrupção e transparência.

Alberto Martins invoca a inconstitucionalidade de algumas das propostas de João Cravinho, mas esse argumento está longe de ser definitivo, porque a técnica nas leis, como no futebol, está ao serviço da estratégia e todos os diplomas, se fizerem sentido, podem ser reparados.

Craviriho queria mais e o PS quer menos esta é, pois, a mensagem que passa para a opinião pública de forma clara e inequívoca.

Ora é também nestas alturas que nos devemos lembrar de que o PS tem um líder e este é primeiro ministro de um Governo que se diz reformador, até nos princípios. Sim, o que pensará José Sócrates de tudo isto? Quererá fazer o favor de nos informar ou, mais uma vez, refugiar se á na desculpa, na qual ninguém acredita, de que o Parlamento é soberano e ele não se mete nessas questões legislativas?


III

Ainda me lembro de, num programa de televisão em que participei há pouco mais de um ano, um académico do jornalismo citar sempre, a propósito e despropósito, as virtudes do imaculado Le Monde em contraposição com o mercantilismo dos jornais portugueses.

Pois parece que foi maldição! Daí para cá, o Le Monde, para resistir aos elogios dos puristas e à falta de leitores, teve de abrir a primeira página aos anúncios, renovar conteúdos e até já faz notícias das suas promoções (uma colecção de DVDs) ao lado do título principal, na capa, como se se tratasse de matéria editorial. E com foto, veja-se o escândalo!

Eu imagino a dor que vai por aí em algumas almas bem intencionadas, mas não estranho. O mundo real tem coisas que as academias deviam estudar com mais atenção e menos complexos.











COMENTÁRIO DO AUTOR DO BLOGUE: Os textos de João Marcelino, na "Sábado", só por si, valem muitas vezes o preço da revista. É o caso deste, publicado na edição de ontem.

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