quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Futebol jovem: assim, sim!

O prometido é devido. Por isso, trago aqui duas histórias de que tomei conhecimento no domingo passado, em Alcochete. Uma de cada clube.

Sporting e U. Leiria têm equipas de juvenis que já são... “selecções”! O Sporting tem uma selecção nacional, com jogadores de praticamente todo o país: há jovens do Algarve, de Trás-os-Montes, das Beiras, etc. A U. Leiria, com meios modestos, tem jovens atletas das redondezas, mas também eles a viverem longe das famílias.
Em ambos os casos, os dirigentes desportivos têm de assumir a sua função com especiais cuidados na vertente formativo-educativa.
Nem poderia ser de outro modo.

CASO 1
Todos os dias, o jogador era levado à porta da escola por um responsável do clube. Chegado o final do 1.º período, verificou-se que o jovem tinha um considerável número de faltas às aulas.
(Ou seja, o jovem entrava na escola, mas depois...)
Decisão imediata: abandono do clube, com regresso à casa paterna.
Comentário de alguém que o conhecia bem: “É uma pena que tenha ido embora. Era o melhor jogador da equipa!”.

CASO 2
Terminado o 1.º período de aulas, os responsáveis do clube quiseram conhecer as avaliações escolares. E rapidamente concluíram que vários jogadores estavam com dificuldades a Matemática.
Decisão imediata: contratar uma explicadora, a expensas do clube, para ajudar os jovens jogadores a superar o problema.
As explicações começaram na passada segunda-feira, dia 15.

* * * * * *

Há anos que defendo que o futebol jovem (dito, até, de formação) deve dar especial atenção à escola, para defesa dos próprios atletas, muitos deles inebriados pelo brilho das grandes “estrelas da bola” que sonham um dia também ser.
Um jovem que veja existir articulação entre a escola e o clube, os resultados escolares e a prática desportiva, sentir-se-á mais motivado para tentar ser melhor estudante e melhor jogador.

Ao longo dos anos, tenho sido uma voz praticamente solitária, criticado até. Mas continuo convencido que este é o único caminho possível.
Sofro quando me informam que um jovem de 16 anos diz aos pais que não quer estudar porque pretende ser profissional de futebol. E sofro porque é fácil prever o que o futuro lhe pode reservar.

Um dia, no tempo em que as selecções jovens portuguesas de futebol ganhavam tudo o que havia para ganhar, um jornalista estrangeiro desabafou: “Vocês ganham tudo nestas idades, porque os nossos jovens estão na escola, a estudar, enquanto os vossos só jogam à bola”. Era (é) verdade.
E acrescentou: “Vamos ver o que é que vocês ganham quando chegarem a seniores”.
Na realidade, Portugal já foi campeão europeu e mundial... em jovens. Nos mais crescidos, nada.

* * * * * *

A terminar, apenas uma “nota de rodapé”: se há clube vocacionado para este trabalho de acompanhamento da realidade escolar dos atletas é a Académica, por toda a história, todo o simbolismo, toda uma filosofia e cultura “sui generis”.
No entanto, isso não acontece em Coimbra.
Felizmente, há clubes que pensam de maneira diferente.

Alcochete, domingo de manhã, do outro lado da vedação da Academia do Sporting...

2 comentários:

Anónimo disse...

Segundo me parece, e se o "Caso 1" é referente ao Sporting, o jogador em causa está esta época ao serviço do Benfica.

O valor da atitude tomada pelos treinadores/dirigentes é um exemplo para o presente e futuro dos restantes jogadores do plantel, e não considero um risco perder-se desta forma um jogador, ainda que ele se venha a tornar o melhor do mundo daqui por uns anos.

Unknown disse...

Concordo com o que escreveu.

O "Caso 1" que relatei, no entanto, diz respeito à U. Leiria.

Mas também me informaram, na ocasião, que o Sporting já procedeu do mesmo modo.
E não só por faltas à escola; o mesmo procedimento é adoptado por comportamento incorrecto com companheiros de equipa, dirigentes e técnicos.

(Aliás, responsáveis do Sporting contaram-me há anos que o Cristiano Ronaldo, ainda júnior, foi uma vez punido da seguinte forma: a equipa que ele integrava foi jogar ao Funchal e ele ficou em Alcochete a "cuidar" das instalações. O motivo, se bem me recordo, terá sido o facto de - depois de avisado - continuar a discutir com colegas no refeitório).

Lá diz o ditado que "é de pequenino que se torce o pepino"...