sábado, 19 de janeiro de 2008

Velho de 51 anos

Encontrou-me e disse, ar doutoral:
– Estás velho. E uma das provas da velhice é a falta de paciência.
Isto dito assim, do alto da sabedoria de alguém, deixa qualquer um sem resposta.
Foi o que me sucedeu.

Agora, muitas horas depois, apeteceu-me reflectir sobre aquela afirmação, proferida com ar dogmático, quase solene, tom grave.
É verdade: estou velho. Tenho a consciência que, aos 51, já vivi mais do que aquilo que me falta viver.
Também é verdade que me sinto cada vez mais impaciente. Não tenho paciência (mas, sobretudo, não tenho tempo...) para aturar cretinos emproados, campeões-da-rua-deles, gente sem ética e a que não consegue ser solidária, fulanos que se ufanam de títulos que nunca conseguiram, ingratos de todas as formas e feitios, mentirosos e outros suaves sacanóides.
É verdade: com gente desta, nem um minuto. Para não os iludir e para não me criar alergia de qualquer tipo.

Dizia-me há dias um amigo que Coimbra está cheia de "malfeitores" (ele utilizou uma expressão mais vernácula...) que, quando se cruzam connosco na rua, sorriem e batem nas costas.
Concordei com ele.
Eu, por todas as razões e mais uma, mas essencialmente por respeito para comigo próprio, não percorro esses caminhos. A quem não quero cumprimentar, não cumprimento. Com quem não quero estar, não estou.
(A nossa vida colectiva seria muito mais saudável se toda a gente procedesse assim. E evitavam-se tantos enganos e tantas desilusões.)

É também por isso que sinto uma impaciência crescente.
Mas contrariamente ao que afirmou o primeiro citado nesta crónica, creio que - apesar dos 51 anos e dos cabelos brancos - esta falta de paciência não é sinónimo de velhice. (Os anciãos costumam ser muito pacientes, não é?)

Sinto que esta impaciência-quase-constante significa, pelo contrário, espírito jovem, de alguém que teima em assumir-se contra-a-corrente, sem receio de correr riscos, incapaz de adorar "bois dourados" sejam eles quem forem. Sinto possuir a maior riqueza que se pode ter: a liberdade de poder escrever, poder falar, poder andar, poder estar (ou não estar) e... poder virar as costas. Em suma: a liberdade de ser - integralmente - eu próprio.

Por isso, primeiro citado deste texto, deixa-me dizer-te que tu, tão acomodado te mostras em lugar de mordomias, é que corres perigo de estar a caminho de uma velhice galopante.
Se é que já não entraste mesmo na terceira idade - a das pantufas.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá, AMIGO. Já alguém, de alguma sabedoria dizia: "Tem cuidado com os que te batem nas costas." Até breve.
CG

A. João Soares disse...

Mário Martins,
Reflexões interessantes da vida prática. Embora um pouco mais idoso, também não tenho paciência para suportar certos malandros. Embora irreverente, cultivo o bom senso, tanto quanto possível, mas isso não me leva a aturar hipócritas. Imagine que tinha um comentador assíduo que eu tinha por amigo e a quem tinha dito algo de mim por e-mail. Inesperadamente, serviu-se disso num comentário, sem respeito pela privacidade e sem consideração pela confiança que nele depositei.
Analisei melhor o que se passou e concluo que é um tipo formatado em ideias nazistas e salazaristas com poucas ideias e essas são demasiado rígidas e fixas. Ele é o senhor de toda a verdade, não perdoa que alguém diga que Salazar tinha um ou outro pequeno defeito, nem que alguém diga que Marx, Cunhal ou Fidel tenham dito uma pequena frase interessante. A estes ele chama de comuna, com adjectivo que irritam qualquer um que o seja ou não.
Coitado, que Deus lhe perdoe e o ajude a recuperar a saúde mental. Em pouco tempo criou blogues que eliminou poucos dias depois, o que tem há ano e meio tem sofrido alterações constantes com novos posts que elimina dois dias depois, apagando tudo o que tinha colocado desde o início até há poucos dias.
Agora, quando se tente visitá-lo deparamos muitas vezes com a informação de que não está acessível.
A tipos assim, novos ou velhos, só há o esquecimento e desligar o fio a que eles nos ligava.
Desculpe todo este arrazoado, mas foi um oportunidade para desabafar.
Abraço

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