domingo, 22 de fevereiro de 2009

Só... (mas feliz)

Não tenho, nem nunca tive, conta no BPN.
Nem no BPP.
Frequentei uma universidade que ainda existe.
Nunca tive um "tacho".
Fiz 21 cadeiras na licenciatura e cinco no mestrado e tive 26 professores diferentes.
Fui funcionário público durante 13 anos, depois de concurso público e nacional.
Saí da Função Pública há 18 anos e não mantenho qualquer lugar ou vínculo.
O meu pai era contínuo e eu sou jornalista.
Tenho uma filha licenciada em Direito e um filho a estudar Medicina.
Nunca assinei um texto que eu próprio não tivesse redigido.
Nunca fui "boy".
Nem sequer nunca estive filiado em qualquer partido.
Comprei um apartamento que custou o mesmo que custaram os dos meus vizinhos.
Nunca me candidatei a qualquer lugar político.
Só exerci, por eleição, "lugares de serviço" (associação de estudantes, sindicatos dos professores e dos jornalistas, associação de jornalistas desportivos, estruturas do futebol, Academia Olímpica, ACM, etc.), nos quais nunca recebi qualquer compensação monetária, nem sequer as famosas "senhas de presença". Na maioria deles, nem as despesas de deslocação.
Nunca meti uma "cunha".
Não tenho nenhum amigo que seja membro de qualquer força policial, das magistraturas ou dirigente de partido político.
Nutro profundo desprezo por quem sobe na vida à custa do erário público, de "esquemas" e "negociatas".
Evito relacionar-me com tais pessoas, tentando mesmo não frequentar espaços públicos onde seja previsível que as possa encontrar.
Sou contra a corrupção.
Nunca paguei "luvas" ou "suplementos" de qualquer espécie, nem mesmo quando só se compravam automóveis novos com "donativos" ao vendedor.
Ao fim de quase 35 anos como jornalista, não há ninguém com quem me tenha relacionado profissionalmente que possa dizer que me pagou qualquer coisa - nem um almoço, nem sequer um café.
Cumpro as leis, mas acredito que os valores morais sobrepõem-se à legislação. E tento agir em conformidade.
Recuso o "chico-espertismo" e o "salve-se quem puder".

Não sou perfeito. Cometo erros - demasiados, para o meu gosto.

Como digo repetidamente, "não nasci para ser simpático".
Talvez por isso tenha escrito este texto num domingo à tarde, quando poderia estar calmamente num dos vários Carnavais da região. (Não, não gosto do Carnaval...)
Acredito que o futuro só será melhor se as vozes livres, descomprometidas, se fizerem ouvir.

Quando abro os jornais e vejo que - a propósito de tudo e de nada - Portugal é uma terra de "primos e primas", em que as vidas pessoais, profissionais e políticas se entrelaçam num rendilhado de malha fina, finíssima, sinto-me um homem só.
Felizmente.

Sem comentários: