sexta-feira, 27 de março de 2009

Alfredo Farinha: um dos professores

A notícia em "A Bola" começa assim: «Morreu esta madrugada, aos 83 anos, Alfredo Farinha, antigo jornalista de A BOLA. O desporto despede-se de um homem que dedicou a sua vida ao serviço do futebol e do jornalismo.»

Alfredo Farinha foi um dos homens que me "ensinou" a ler.
Quando cheguei à escola primária, onde tive como professor o saudoso Bentes da 1.ª à 4.ª classe, já lia alguma coisa, graças ao interesse que demonstrava por jornais e com o apoio do meu pai.
(O meu pai comprava o "Diário Popular" ao sábado, sobretudo por causa do concurso de anedotas, e "O Primeiro de Janeiro" ao domingo, por tradição familiar de minha mãe, natural do Porto. Mas ia trazendo "A Bola" de vez em quando, sempre que algum aluno ou professor a deixava na Escola Brotero. Muitas vezes já tinha dias, mas para mim era sempre novidade...)

Em sentido figurado, Alfredo Farinha voltou a ser meu "professor" quando fez parte daquela Redacção de "A Bola" que incluía também nomes como Vítor Santos, Carlos Pinhão (o que eu mais admirava), Carlos Miranda e Álvaro Braga, entre outros.

Ai que saudades, ai, ai... do tempo em que, ainda na infância, religiosamente esperava a chegada da "carreira" a Friúmes, às segundas, quintas e sábados, durante os meses das férias grandes, para receber às sete e tal da tarde o jornal que minha mãe tinha ido entregar ao motorista da "camioneta" às cinco da tarde, na paragem da Estação Nova.

Mais tarde, na juventude, quantas vezes fui a Poiares à segunda-feira (único dia em que havia "carreira" de Friúmes para Poiares, porque era dia de feira) apenas para comprar "A Bola". Saía da aldeia às 10h00 e só voltava às 18h00, mas regressava feliz: trazia o jornal comigo.

Outros tempos - mais difíceis, é certo.
Mas que ainda hoje me fazem sonhar.
Ai que saudades, ai, ai...

Por fazer parte destas memórias inapagáveis, também por isso, uma sentida despedida a Alfredo Farinha, que tive o prazer de cumprimentar quando passei pelos corpos sociais do Clube Nacional da Imprensa Desportiva, hoje Associação de Jornalistas de Desporto.
Bem-haja. E que descanse em paz.


ADENDA (30.03.2009)
Exmo. Sr.,
Como neto do Alfredo Farinha e em nome da família agradeço
profundamente a lembrança e os sentimentos que expressou no seu blogue.
Guardaremos com carinho as suas palavras,
Meus cumprimentos,
Vitor Sérgio Farinha

1 comentário:

Dylan disse...

A morte de Alfredo Farinha significa o fim da melhor geração de jornalistas da imprensa desportiva em Portugal, para não dizer do jornalismo em geral. Nas palavras do beirão, um tipo de jornalismo que “não obedecia à voz do dono” nem tampouco era subserviente. Independentemente das suas simpatias políticas e do seu clube do coração, defendido até à medula quando era ridicularizado por invejosos, utilizava corajosamente a liberdade de expressão mesmo nos tempos de feroz ditadura. Escrita irrepreensível, foi professor e agraciado com o grau de comendador, também graças aos seus valores morais onde a frontalidade e a lealdade imperavam. Que lição para os dias de hoje onde o jornalista se confunde com o ardina, a notícia com a opinião, onde a a deontologia é arrumada para dentro de uma secretária e a promiscuidade de alguns jornalistas com agentes desportivos é demasiado comprometedora.

http://dylans.blogs.sapo.pt