quinta-feira, 30 de julho de 2009

Política de "banha da cobra"

Quando era miúdo, os vendedores de banha da cobra eram presença frequente na Praça Velha (aquela a que muitos teimam em chamar de Praça do Comércio).
O produto servia para tudo e mais alguma coisa, no dizer dos vendedores. Homens de palavra fácil, juravam que a banha curava doenças, ajudava a emagrecer, aliviava as dores e - até! - afastava o mau olhado.
Eu, pequenito de calções, ficava por ali a ouvi-los, entusiasmado com a quantidade de argumentos utilizada para vender os pequenos boiões, paredes-meias com o cego do acordeão que cantava as desgraças que aconteciam por todo o país, enquanto uma senhora gorda vendia folhas A3 impressas com os versos.
Era um espectáculo a Praça Velha, sobretudo aos sábados de manhã, quando as ruas da Baixa se enchiam de gente trazida pelos comboios e as camionetas de carreira. Que espectáculo!

Actualmente, quando alguns políticos aparecem no televisor lembro-me imediatamente dos verdadeiros artistas da Praça Velha da minha meninice.
É irresistível.
Ouço Sócrates e Teixeira dos Santos afirmar que baixaram o IVA em 1% (omitindo que anteriormente o haviam aumentado em 2%) e vêm-me logo à memória os vendedores da Praça Velha.
Felizmente, estou vacinado desde pequeno: eles, os vendedores de banha da cobra, apesar das horas que passei a observá-los, nunca me conseguiram convencer das qualidades do produto.

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