segunda-feira, 29 de março de 2010

Os salários de José Penedos e Rui Pedro Soares

«Diferente, porém, é o caso de alguns gestores cujos ordenados e prémios foram divulgados.
José Penedos será único e insubstituível? Rui Pedro Soares será único e insubstituível?

A favor dos seus robustos ordenados, há quem alinhe vários argumentos:
1. Os vencimentos que recebem são inferiores àqueles que se praticam a nível internacional no respectivo sector;
2. Estes gestores contribuem para os elevados lucros das suas empresas, devendo ser premiados por isso;
3. Se não lhes pagarem bem, as empresas arriscam-se a perdê-los.

Ora, nenhum destes argumentos é válido.
Vejamos:
1. A maioria destes quadros de que estamos a falar não chegaria a ocupar na Alemanha, em Inglaterra ou em França os cargos que ocupa aqui. Alguns dos nossos presidentes de empresas não seriam mais do que chefes de secção no estrangeiro. Além disso, o nível de vida na maioria desses países é muitíssimo superior ao nosso, pelo que os ordenados não são comparáveis: a vida em Lisboa é duas ou três vezes mais barata do que em Berlim, Londres ou Paris;
2. Com raras excepções, as empresas de que estamos a falar teriam os mesmos lucros com estes gestores ou com outros; além de que se pagam prémios de gestão em empresas que dão prejuízo;
3. Estes quadros não representam uma mais-valia para as empresas – as empresas é que representam uma mais-valia para eles. Se alguns deles saíssem, as empresas não perderiam nada e eles perderiam muito.
(...)
Tenho as mais fundadas dúvidas de que muitos destes administradores que recebem principescos ordenados e prémios dêem mais à sociedade do que recebem.
A maioria deles dá menos.
Ou seja: são pessoas que dão prejuízo à sociedade.
Em lugar de ser a sociedade a dever-lhes o contributo do seu saber, do seu empenho, da sua dedicação, são elas que devem à sociedade um nível de vida artificial, que não está de acordo com o que produzem.

Numa linguagem crua, mas verdadeira, estas pessoas são parasitas da sociedade.
Alguns desgraçados (e desgraçadas) que ganham 500 euros por mês, e levam uma vida inteira a trabalhar sem passarem da cepa torta, têm de contribuir para sustentar o nível de vida desses senhores que se passeiam em carros de luxo, vão para hotéis de 6 estrelas, viajam de avião em primeira classe e vivem em casas de cinco ou mais milhões de euros.
Isto é que é chocantemente imoral.
E nenhum regime o deve aceitar.»
(José António Saraiva, no último "Sol")

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