Há coisas que não entendo.
Logo a seguir ao "25 de Abril", o bacalhau tornou-se num produto proibido. Não estava à venda.
Lembro-me de, quando era árbitro, aproveitar as idas à Madeira para comprar bacalhau. Lá havia, aqui não.
Mas mesmo no Funchal, não era fácil adquirir uns quilos do "fiel amigo". À sexta-feira, os comerciantes retiravam o produto das montras, para evitar vendê-lo aos "continentais".
"Não vendemos bacalhau a cubanos", ouvi eu no Funchal. Mas nós sempre conseguíamos comprar uns quilitos, porque havia amigos que nos acompanhavam às lojas.
Cá em Coimbra, arranjava-se bacalhau - quase clandestinamente - num 2.º andar de Montarroio, que era onde a minha mãe ia comprá-lo. Numa casa particular!
Mais tarde, nos anos 80, quis comprar um automóvel. Esperei, esperei. A minha vez nunca mais chegava.
Um dia, entrei no "stand" mal disposto. (Por vezes fico mal disposto e nessas ocasiões sou muito difícil de aturar...). O proprietário, vendo o meu estado de espírito, disse-me que ele nada podia fazer e aconselhou-me a ir falar com o vendedor, numa terra nos arredores de Coimbra.
Lá fui. E o vendedor não foi de meias palavras: eu só teria o automóvel se lhe desse 50 ou 60 contos. Era a altura das importações contigentadas e, pelo que percebi, o mercado funcionava assim. Não aceitei a proposta do vendedor.
Um dia, um amigo informou-me que os carros da tal marca tinham chegado e estavam "escondidos" em determinado lugar. Era sexta-feira. Fui ao tal sítio e comprovei que havia carros iguaizinhos ao que eu queria comprar.
Voltei ao "stand" e disse ao proprietário que, se havia carros, era chegada a altura de um ser para mim. Ao preço de tabela. E acrescentei que não saía dali até ter o carro, ele se quisesse que chamasse a polícia. Eram umas 4 da tarde, lá para as 7 da noite venderam-me o carro. Ao preço justo.
(Nunca mais comprei um automóvel daquela marca. Aqui há uns cinco anos, telefonaram-me do tal "stand" para casa, a perguntar se estava interessado num determinado modelo. Marquei uma visita ao stand, fui, pedi catálogos, preços, as informações mais detalhadas que era possível e... saí. Telefonaram-me uma, duas, três vezes, a perguntar se já tinha decidido. Cansei-me da brincadeira e disse que não estava interessado. Ou seja, fiz-lhes perder algumas horas, porque eu não queria - nunca mais quero - um carro daquela marca. Foi a minha "vingançazinha do chinês").
Ali por 1983/1984, quando nasceu a minha filha, não havia bananas! Conseguir comprá-las era um feito quase sobrehumano. Mas o médico dizia-nos quera importante dar bananas moídas à criança. Havia que encontrá-las!
Um dia, a minha mulher descobriu que uma pequena loja, na zona do Teatro Avenida, vendia-as ao fim-de-semana, desde que os clientes lá comprassem outros géneros.
Estas são algumas das "estórias" que já vivi com o sector comercial, o que me leva a dizer - quando confrontado com situações anómalas - que é capaz de ser parecido com a compra e venda de droga.
(Hoje em dia, comprar moedas de colecção num banco que eu cá sei é quase o mesmo. Vou lá e não têm moedas, ainda não chegaram. Passadas semanas, volto lá e ... já chegaram e já acabaram!).
Agora, estou para comprar um automóvel. Escolhida a marca e o modelo, tratei de encontrar as melhores condições para o negócio. Visitei alguns concessionários e telefonei a outros.
Qual não é o meu espanto quando num desses telefonemas, tendo dito a razão do contacto, a voz do outro lado me respondeu o seguinte:
- Não damos preços por telefone.
Sinceramente, não compreendo. Até parece que - em vez de um automóvel - eu estava a tentar comprar um estupefaciente qualquer.
2 comentários:
Será que o Dr. Mário Martins concorda com a bordoada que o seu antigo director Rui Avelar dá no DC, via Vinagretas do CP?
Ora aqui está um bom exemplo de um comentário (anónimo) que não tem nada a ver com o "post".
Normalmente, este tipo de comentários vai directamente para o "lixo" (ou para a "reciclagem", se preferirem).
Publiquei este porque alude a um assunto sério (a co-incineração), que muito significa para mim. E porque me permite afirmar que continuarei a lutar, como sempre fiz, contra a queima de resíduos industriais perigosos (RIP) em Souselas.
Penso que o "Diário de Coimbra" também segue o mesmo caminho. E que, portanto, palmilhamos a mesma estrada.
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